
A região portuguesa conhecida como Alentejo é a maior do país e se estende do Oceano Atlântico até a fronteira com as regiões da Andaluzia e Extremadura, na Espanha.
Ao norte é limitada pela região centro-sul de Portugal e Lisboa. E ao sul pela região do Algarve, conhecida por suas praias e clima mediterrâneo, disputa com a capital do país o título de lugar mais visitado por turistas estrangeiros.
Portanto, o Algarve não é o lugar ideal para quem quer praia, sombra e água fresca. Mas o Alentejo. Refiro-me especificamente às praias da Herdade da Comporta, localizada em uma reserva natural a menos de uma hora e meia de Lisboa, banhada pelo Oceano Atlântico e águas geladas.
A Condé Nast Traveller considerou Comporta o melhor local “secreto” de praia em Portugal. Diz a revista que algumas pessoas vão querer comparar o lugar a Ibiza. Mas elas se enganam. Comporta não é Ibiza, nem St Tropez 30 anos atrás, e muito menos Trancoso (apesar de boa parte do jet-set paulistano passar pelo local durante o verão europeu).
“Comporta trilha seu próprio caminho. É diferente de qualquer lugar que você tenha estado antes”, afirma a publicação inglesa (em tradução livre para o Português).
E esta é a mais pura verdade. Inclua Comporta em sua viagem pelo Alentejo, seja começando ou terminando por lá.
Não deixe também de desbravar o interior, visitar cidades históricas, conhecer seus vinhedos e adegas, e desfrutar da culinária alentejana.
Monsaraz e Évora, assim como Comporta, obrigatoriamente devem fazer parte do seu roteiro. Mas se tiver mais tempo, inclua também Marvão, Vila Viçosa, Castelo de Vide e Elvas.
Independente do roteiro que você escolher, lembre-se: as distâncias de carro são curtas, principalmente para nós brasileiros.
Minha sugestão é pernoitar uma noite em Marvão e conhecer Castelo de Vide. No caminho de Marvão a Monsaraz, conhecer Elvas e Vila Viçosa. Dormir uma ou duas noites em Monsaraz e uma em Évora. Depois, terminar a viagem em Comporta com pelo menos quatro dias, três noites, de estadia, e retornar a Lisboa.


Mas se você optar por sair de carro de Madri, como eu fiz, meu conselho é fazer Madri – Marvão / Castelo de Vide – Évora – Comporta. E depois na volta fazer: Comporta – Monsaraz – Vila Viçosa – Elvas – Mérida (cidade romana na Espanha) – Madri.

Interior Alentejano


Cerâmicas – se você gosta de cerâmica leve uma mala vazia. A região de Monsaraz tem a maior concentração de olarias de Portugal. Aproveite a visita a um dos mais belos povoados do país e compre cerâmicas.
Junto à porta da cidade está o que eu chamaria de a esquina de ouro – Rua de Santiago com Rua do Celeiro. Primeiro uma loja de produtos típicos da região, a Casa do Tial. Ao lado, já na esquina, a loja de artesanatos e cerâmica pintada à mão. E colada nela, a conhecida loja de Mizette Nielsen, uma holandesa muito simpática que adotou Portugal como país faz mais de 30 anos, proprietária da tecelagem de mantas de lã e tapetes coloridos típicos do Alentejo.
São Lourenço do Barrocal – a poucos minutos de Monsaraz encontra-se o Hotel São Lourenço do Barrocal. As construções e estábulos da antiga fazenda, propriedade da mesma família há 200 anos, foram todos reformados para dar origem a esta hospedaria que tem simplicidade de fazenda, e sofisticação de um cinco estrelas.

O dono e idealizador do projeto José António Uva, oitava geração da família, também era um dos hóspedes do hotel, junto com sua mulher e filhos. Ele mesmo me contou que a propriedade foi nacionalizada durante a reforma agrária que se seguiu à Revolução dos Cravos.
Ao conseguir reaver a fazenda, ela estava completamente abandonada e destruída. Ele tinha então duas opções: deixá-la afundar ou transformá-la. Para nossa sorte, a família escolheu reabilitá-la em forma de hotel e spa.
O antigo celeiro foi transformado em restaurante, hoje decorado com fotos e objetos que contam a história da família e do local, serve pratos deliciosos da típica cozinha alentejana, obviamente utilizando os produtos locais.






As antigas casas dos colonos e os estábulos deram origens aos quartos e apartamentos do hotel. Detalhe: todo o hotel foi decorado pela mulher de Uva, responsável também pelo restaurante Cantinho do Alvarez em Lisboa, entre outros.
A piscina foi construída no pasto junto à uma pedra, paisagem que compôs a vista da janela da pequena casa em que José Uva morou durante a restauração da fazenda.
“Me inspirei na Casa das Canoas de Niemeyer no Rio de Janeiro”, me disse ele, mas não sei se brincava ou falava sério. A pequena casa deu origem ao bar e restaurante que atende aos hospedes na piscina.

Dentro da propriedade também há uma loja que vende vinhos e produtos da própria fazenda e artesanato local.
Sem dúvida, o Hotel São Lourenço do Barrocal oferece o que tem de melhor em termos de hotelaria e restauração não somente na região, mas em Portugal. Se não se hospedar, vá pelo menos conhecer o restaurante. Caso se hospede ali, você vai querer voltar ao Alentejo somente por causa do hotel. É uma experiência única!
Vinhedos – os vinhedos da Cartuxa estão ao redor da linda Évora. A adega produtora do famoso Pêra-Manca limita sua venda a uma garrafa por pessoa, e somente depois da visita guiada à propriedade.
Mas a Enoteca Cartuxa no centro histórico de Évora, ao lado do templo romano, vende todos os outros vinhos de sua produção e ainda conta com um surpreendente restaurante, e explico o porquê abaixo.
Fui até lá apenas para comprar vinho, mas comecei a fazer degustação. Logo o restaurante da Enoteca começou a encher, e comecei a ver os pratos que saiam da cozinha. O lugar já estava quase lotado, e todos os clientes que chegavam sem reserva não conseguiam mesa, perguntei se poderia jantar ali mesmo, no balcão. E sim, a comida realmente estava deliciosa.
A reserva no Fialho tive que transferir para o dia seguinte. Não deixe também de conhecer o Dom Joaquim, menos turístico e muito recomendado pelos moradores de Évora.

Outro vinhedo que vale a visita é a Herdade do Esporão, a 45 minutos de Évora, e 30 minutos de São Lourenço do Barrocal. Além dos vinhos, não deixe de levar alguns de seus azeites. A propriedade conta também com um restaurante. Infelizmente não tive tempo de provar a comida, mas li muitas resenhas positivas!

Em Comporta não visitei os vinhedos do produtor Herdade da Comporta. Mas se você quiser comprar garrafas direto do produtor, vá à adega no meio dos arrozais e ninhos de cegonhas construídos no alto de postes que enfeitam toda a região. A adega está ao lado do restaurante Museu do Arroz, a poucos metros da vila.
Herdade da Comporta
Como falei no começo do texto, a Comporta e praias vizinhas estão localizadas dentro de uma reserva natural. Portanto, não há hotéis a beira mar. A não ser que você se hospede na “sem charme algum” Península de Tróia.
São poucas as opções de hospedagem bem localizadas – Sublime, Cocoon Lodges e Casas na Areia – e os preços são salgados, mas vale cada centavo, principalmente se o objetivo for descansar. Há opções mais baratas de hotéis e casas rurais em Grândola ou Santiago do Cacém, porém o que se economiza em hotel, perde-se em localização.
O Hotel Sublime em Comporta faz jus ao nome. Um oásis entre pinheiros, o mar, os arrozais e os vinhedos.
O restaurante do Sublime leva o nome de Sem Porta, justamente porque é todo de vidro e se mistura à paisagem à sua volta. Não deixe de provar o arroz com frutos do mar, o polvo e o lombo de vitela!
Fuja da praia da Comporta que fica lotada. Se quer badalação, vá a Praia do Pego, muito procurada pelos VIPs principalmente por causa de seu único restaurante, o Sal. Entre uma praia e outra, pare para almoçar no Dona Bia, comida com simplicidade e qualidade à beira da estrada. Se quiser sossego, vá a praia da Aberta Nova e coma uma salada de polvo no único restaurante quiosque que há por ali. Se não quer nem muito sossego, nem muita badalação, passe o dia na praia do Carvalhal e almoce um peixe grelhado no carvão no restaurante O Dinis.
E para fechar a viagem com chave de ouro, não deixe de ver o pôr do sol no Porto das Palafitas ou curtir o fim de tarde tomando um aperitivo na vila de Comporta. Os mais consumistas também podem fazer compras nas charmosas lojinhas da vila.